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COMO NÓS SOFREMOS...

DEPILAÇÃO CAVADINHA


Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve. Mas acho que meus pêlos pubianos não pesam tanto assim. Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa. Eu imaginava que ia doer, porque elas ao menos me avisaram que isso aconteceria. Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.


- Oi, queria marcar depilação com a Penélope.

- Vai depilar o quê? Normal ou cavada?
Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer direito.
- Amanhã, às… Deixa eu ver…13h?
- Ok. Marcado.


Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves, porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique. Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui. Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba! Vou ficar que nem ela, legal. Pediu que eu a seguisse até local onde o ritual seria realizado.

Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas. Uma mistura de “Calígula” com “O Albergue”. Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão.

Quando começou a sessão juro que cheguei a pensar em ligar para o SAMU. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural.

Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais. Tudo ótimo. E você?

Ela riu de novo como quem pensa “que garota estranha”. Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes. O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer.

Todas recomendam a todos porque se cansam de sofrer sozinhas. Quer que tire dos lábios? Não, eu quero só virilha, bigode não. Não, querida, os lábios dela aqui ó. Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios? Putz, que idéia. Mas topei. Quem está na maca tem que sofrer mesmo. Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor. Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail.


- Olha, tá ficando linda essa depilação.
- Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto.


Se tivesse sobrado algum pelinho, ele teria balançado com a respiração das duas. Estavam bem perto dali. Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo. “Me leva daqui, Deus, me teletransporta”. Só voltei à terra quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça. Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá? Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada.

Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça filha da mãe arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir. Vamos ficar de lado agora?


- Hein?


Deitar de lado pra fazer a parte cavada. Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.


- Segura sua bunda aqui.
- Hein?

- Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.


Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o olho que nada vê. Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar, soltar um pum na cara dela, como se pudesse envenená-la. Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria:


- Tudo bem, Pê?

- Sim… Sonhei de novo a parte de trás de uma cliente.


Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu Twin Peaks. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação. Sei que ela deve ver mil orifícios por dia. Aliás, isso até alivia minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos? E aí me veio o pensamento: Peraí, mas tem cabelo lá? Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei que a bunda tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem uma preguinha pra contar a história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto. Vira agora do outro lado. Caraca, por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha.

E então, piora. A broaca da salinha do lado novamente abre a cortina. Penélope, empresta um chumaço de algodão? Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem? Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente. Terminamos. Pode virar que vou passar maquininha. Máquina de quê?! Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol.


- Dói?
- Dói nada. Tá, passa essa coisa ai.

- Baixa a calcinha, por favor.


Foram dois segundos de choque extremo. Baixe a calcinha, como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da perereca ao fio-fó. O que seria baixar a calcinha? E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável.


- Prontinha. Posso passar um talco?
- Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha.

- Tá linda! Pode namorar muito agora.


Namorar… Namorar… Eu estava com sede de vingança. Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso. Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei anti-depilação cavada. Mas me rendi! Depois que tudo passa, depois que sai o vermelho e o inchaço, fica que é um beleza! Aí me veio a dúvida: Caramba, qual será o tempo de duração?

16 comentários:

Unknown disse...

nossa deve doer demais mesmo. beijos

Claudia Uchoa disse...

Realmente a posição é bisarra,mas, vale a pena!

Daniele Garcia disse...

Fiquei com medo só de ler!!!

Obs.: Ri muito!!!

Beijos

....... disse...

Mto engraçado, rachei aqui! kkkkkkkk

Mas vale a pena né, ficar um tempão sem se preocupar com os pêlos novamente.

Bjos Pin UP

Nana Malta disse...

Ri muito e sei muito bem o que tu passou!
Aconteceu a mesma coisa comigo, que dor do cacete, acho que é pior do que parir, só de lembrar dá uma agonia!
Mas depois desse dia, nunca mais fui corajosa o suficiente para voltar lá e repetir o massacre da cera quente. Menina, se na frente eu chorei, imagina atrás, não, nem pensar, tu foi MUITO corajosa. Agora também, já estava na merda mesmo né? kkkkkkkkkkkk
O tempo de duração varia, em mim passou uma semana lisinha, depois foi crescendo, ficando os cotoquinhos, mas sabe né? pra fazer novamente tem que deixar crescer muito! É fogo!

:*******

FLAVIA SEABRA & LENINHA SEABRA disse...

kkkk! dei boas risadas!

beijo grande

Raquel M. disse...

Esta história é muito, mas muito boa!! Rolei de rir, afinal, não é nada mais que a realidade escrita em português bem claro, hehehe...

Tá rolando um concurso cultural lá no meu blog, se vocês quiserem participar e divulgar... Fiquem à vontade!

Beijos!

Aninha disse...

Tadinha, querida!
Realmente dóóóóóiiiii demais! Dá vontade de bater na depiladora mesmo, além do constrangimento. hehe
Mas olha, to assustada com o tanto de meninas que comentaram que não depilam. o.O
Eu depilo desde os 15 anos, uma vez por mês [tenho 22 agora].
Antes depilava 2 vezes por mês, mas agora eles demoram mais pra crescer... Não consigo ficar com pelos, só um pouquinho bem pouco pra num falar que tá pelada. uhauhauahuaa
Boa sorte nas próximas vezes!

Unknown disse...

Jesus, vou ter um treco de tanto rir, isso tem que ser impresso e dsitribuído, escreve um livro pelamor, eu compro, muahahahaha!

Tô no trabalho dando gaitadas, me segurando pra chefe não vir perguntar o porque de toda essa fiasqueira, kkkkkkkk!


Beeeeijo!


FUIZ...

Rita Araujo disse...

kkkkkkkkkkkkkk
passando maaaaaaaaaaaal!
kkkkkkkkkkkkkk
bjux

Unknown disse...

aiiii q dor!!
Mas quase quebro uma costela fazendo força pra não rir...
Vc é uma ótima escritora. Quem consegue fazer uma cronica de um fato desses???
Parabés!!!!!!!

Silvia Orchidea disse...

Meninas, é isso aí, rs. Da Ritinha ao Fagundes é um incômodo, rs

Mas o Instituto que frequento não tem visitinha da colega e ninguem olha a minha Ritinha, rs

Amei o texto, me vi fazendo caras e bocas, uis e ais, rs, valeu!!

Silvia Orchidea
Rio

LOUCAS POR BAZAR disse...

hahahaha ótimoooooooooooo!!! Não conseguia parar de rir...

Beijos flor!

Unknown disse...

Passei uma vez por essa do "vira de ladinho" pra nunca mais. É muito constrangedor.
Você precisa conhecer a minha depiladora. Ela é ultra, mega rápida (o sofrimento acaba logo) e NINGUÉM entra na sala. rs

Ri muito
Bjoks

Marília Alves disse...

Meninas muito obrigada pela solidariedade e agora realmente só a máquina zero mesmo, não aguento mais essa dor, parece que vc vai parir um filho, se ainda ficasse mais tempo. E ainda mando o Sr. dos Anéis passar lá é lá no fundinho.

Fernanda ¨ disse...

Jac, eu ri demais, tô rindo até agora! :)
E é a pura verdade!

 

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